Resposta aos tempos de Antiética

Por Luiz Fernando Reginato

E agora José? Um novo governo assume, enquanto um circo chega à cidade. Nas ruas, malabaristas, trapezistas e mágicos, se misturam a transgressores de todos os naipes. Em comum, a intenção de seduzir jovens e infantilizar adultos. A diferença está na reputação dos espetáculos. Os circenses, pelo ineditismo, despertam entusiasmo; já os políticos, com seus truques manjados, nenhuma graça.

Previsões indicam tempos de antiética, corrupção, retrocesso econômico, politização da gestão e restrições às liberdades do mercado. No pacote, a afronta aos valores éticos e morais, ao induzir à crença que o crime compensa e os fins justificam os meios. Os conformistas, certamente irão ao circo, já os protagonistas, procurarão respostas à altura dos desafios. Por onde começar? 

Vale lembrar que o antídoto para a antiética – condutas egoístas cuja moral se opõe ao interesse social – é, justamente, mais ética – comportamentos virtuosos – orientados por valores morais e o bem comum. Vejo aqui uma causa para empresários, conselheiros, consultores e demais líderes, se mobilizarem como ativistas éticos, disseminando valores e condutas positivas nos ecossistemas de gestão e negócios onde atuam. 

Alguns artigos que publiquei, como “Organização ponto zero”, “Comunidades de lucros”, “Propósitos e despropósitos” e “Os pecados capitais e a Governança” oferecem inspiração para novas ideias. Sugiro concentrar esforços em três eixos: potencializar a governança corporativa, amplificar a cultura empresarial e educar líderes como multiplicadores da ética e da cidadania. 

– Sabemos que a boa governança corporativa pode aprofundar as exigências sobre seus pilares fundamentais de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa no reequilíbrio dos interesses dos shareholders, stakeholders e da sociedade. É possível avançar ainda mais na disseminação da cultura da ética nas empresas e instituições. 

Seguramente, as ações de compliance terão maior efetividade ao reconhecer o quanto a ética, associada aos instrumentos de controle, pode influenciar o arbítrio humano nas decisões. A outra é uma ação proativa da governança na construção de uma nova filosofia de gestão e negócios mais integrada com as aspirações sociais, como pregam a Nova Sociologia Econômica e o Capitalismo Consciente. 

Venho trabalhando por uma governança mais descomplicada baseada na excelência e na integridade. Acredito nas empresas éticas, saudáveis e lucrativas numa visão convergente. Nem retroceder na percepção de que negócio da empresa se restringe ao próprio negócio, nem evoluir na aventura de fazer filantropia e modismos com recursos alheios. A sustentabilidade requer racionalidade e sensibilidade na medida certa. 

– A cultura por sua vez, porta diretrizes estratégicas impregnadas de valores éticos e morais. Modernamente, as empresas descobriram o poder de propósitos e causas para impulsionar a reputação de suas empresas, atrair talentos e a simpatia de clientes. Só que muitas delas não ultrapassaram a fase da comunicação e do marketing. Um espaço de ativismo ético para os líderes empresariais é fazer essa cultura acontecer e habilitar parceiros e colaboradores na difusão de comportamentos inspiradores em suas redes familiares e de relacionamentos. 

– A educação de líderes competentes e éticos abrange múltiplos saberes e habilidades dado os impactos de suas condutas nas relações interpessoais, no clima e cooperação, na performance e produtividade, no convívio social e familiar e na plena atuação como cidadãos. Dentre as competências requeridas nesse desenvolvimento, destaco as competências morais como base para todas as demais. 

Quaisquer profissionais competentes ou cidadãos conscientes se orientam por atitudes de respeito às individualidades, de lealdade em todos os níveis, na transparência de informações, na meritocracia como forma de reconhecimento e na integridade como promotora da confiança indispensável. Para transformar a sociedade é preciso formar cidadãos éticos. 

Minha trajetória atesta minha militância ética na conexão entre humanos e negócios.  Uma jornada de gratificantes realizações como conselheiro, consultor, educador e autor. Mas já que estamos falando de respostas, continuarei escolhendo meus projetos, parceiros e empresas pelo ditado “Diga-me com quem andas e te direi quem és”. Em tempos de antiética, todo o cuidado é pouco.  

De volta ao começo, caro José. Você não vai ficar parado aí assistindo o circo passar, não é? Estou curioso para saber que resposta você vai dar.

Luiz Fernando Reginato

Mestre em Sociologia, Economista, MBA em Marketing, Conselheiro de administração. Sócio- diretor da RGM Consultoria Empresarial

Outras publicações

Comunidades de lucro: novo propósito empresarial?

Capacidades estão envelhecendo e
arrastando negócios e profissionais para o desconhecido. Se as fragilidades foram reveladas, a interdependência sugere uma nova maneira de construir coletivamente felicidade e lucros