Os Pecados Capitais e a Governança

Por Luiz Fernando Reginato

Por hipótese, as empresas são entidades do bem, promotoras do desenvolvimento econômico e social. Seus propósitos e reputação atraem investimentos e talentos que conduzem as sagas familiares através das gerações. Infelizmente, nem todas são ilhas de virtude e escondem pecados capazes de interromper, prematuramente, seus ciclos de valor e de vida.

A arte da sobrevivência das organizações está na capacidade de enfrentar os obstáculos da sua trajetória. Os mais complexos e incertos provêm de forças externas do macroambiente econômico, político, social, ambiental e tecnológico. São ameaças e oportunidades que atingem todos os agentes econômicos, indistintamente. Vence o jogo quem melhor se adaptar. Já no âmbito do microambiente, estão os fatores que agem sobre o contexto dos negócios, circunscritos às transações comerciais e às relações com clientes e demais stakeholders. Seu papel é desafiar as forças e fraquezas específicas de cada empresa, provocando a seleção natural do mercado. O curioso é que, ainda que diferenciados em origem, intensidade ou abrangência, todos os fatores são apenas condicionantes da atividade empresarial.

O que determina mesmo o sucesso ou fracasso dos empreendimentos são variáveis controláveis próprias do interno da organização: sua capacidade de reconhecer tendências, antecipar-se às transformações ou agir para explorar as oportunidades que toda mudança traz. Nada de adotar postura de vítima ou reclamar das políticas de governo!

As empresas são soberanas em decidir sobre qual estratégia seguir, como se comportar no mercado e com clientes, na escolha da tecnologia, na qualidade de seus produtos e serviços, nas parcerias e na gestão dos seus talentos. O que compromete a qualidade de suas escolhas são os pecados capitais, próprios dos atos humanos, entranhados em sua cultura.

Os mais frequentes são: o apego doentio ao poder, o egoísmo que sufoca a cooperação, a falta de integridade que compromete o futuro, a arrogância que rejeita o conhecimento e o protecionismo que provoca a apatia. Em ambientes assim, os aplicativos do desafio e do crescimento se desinstalam, o mérito pede suas contas e a sucessão se fragiliza. Se os exemplos vierem do andar de cima, pior ainda! A força da gravidade se encarrega de ampliar seus efeitos danosos até as bases.

O reconhecimento dessas restrições só reforça o papel da boa governança corporativa na prevenção e proteção do futuro das empresas. Os Conselhos consultivos ou de administração, como estruturas institucionais próximas ao poder e às lideranças, podem ir além do papel de orientar e controlar para assumir as funções de educar e transformar.

Mais do que conhecer a cultura, os Conselhos devem ser agentes de seu processo de evolução, tendo como diretrizes a excelência e a integridade. Como queremos demonstrar, são melhores pessoas que fazem empresas maiores e negócios verdadeiramente sustentáveis!

Luiz Fernando Reginato

Mestre em Sociologia, Economista, MBA em Marketing, Conselheiro de administração. Sócio- diretor da RGM Consultoria Empresarial

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