São inegáveis os benefícios da governança corporativa para garantir o futuro das empresas, notadamente as de origem familiar. Mesmo com tanto exemplos de sucesso, um bom número de empresas hesita em adotá-la. Quais as razões?
Uma das causas é a própria visão empresarial: algumas empresas se percebem como um negócio de família, enquanto outras se consideram famílias empresárias. Simples retórica, ou uma mudança abissal no posicionamento frente ao futuro?
No primeiro caso, é a família que gira em torno do negócio do qual depende para satisfazer as necessidades crescentes das gerações. Adeptas à máxima “em time que está ganhando não se mexe” convivem com lideranças conservadoras e modelos de negócio tradicionais, até que as crises de mercado revelem a defasagem competitiva da empresa. As consequências são sabidas: comprometimento do patrimônio, escassez de recursos e conflitos familiares.
Na outra situação, são os negócios que giram em torno da família, qualificada para expandir e perpetuar os empreendimentos através da preparação dos sucessores, sucedidos, herdeiros e acionistas. Com a visão de família empresária, abdica do conforto e clarifica as diretrizes de condução dos negócios e participação na sociedade e na gestão. Uma óbvia opção pelos fundamentos e mecanismos de governança indutores do pluralismo de ideias e renovação dos negócios e da liderança. Para estas empresas, vale o ditado: “é a família que depende da empresa e não a empresa que depende dessa”.
A segunda causa é o desconhecimento dos empresários dos reais objetivos e processos de governança. A forma segmentada como é, normalmente, tratada pelos profissionais da área, em função de suas expertises, tem contribuído para uma percepção difusa da governança pelos clientes que a percebem como um intrincado sistema, que lhes foge à compreensão e ao controle.
Na verdade, a governança corporativa é um sistema amplo e por isso requer uma abordagem multidisciplinar, de saberes e métodos, para atender a diversidade de questões que emanam das dimensões familiar, societária, de negócios e gestão. A carência comumente observada é quanto à falta de integração dessas atuações, que pode comprometer a unicidade e os resultados esperados.
Será eficaz discutir estratégias do negócio, sem harmonizar os interesses e relações familiares e societárias? Ou então, implantar conselhos sem a competência de gestão para efetivar suas recomendações? E mais ainda, projetar o futuro dos empreendimentos divorciado do planejamento da sucessão? Certamente que não, estas iniciativas só podem lograr êxito quando associadas.
Por essas razões acreditamos na integração lógica desses conceitos e métodos na perspectiva de um ciclo da governança que facilite aos empresários a autogestão dos investimentos e resultados.
O grande propósito é descomplicar a implantação da governança para que mais empresas familiares tenham a oportunidade de se constituírem em famílias empresárias. A garantia de sucesso dessa jornada se embasa numa qualificada atuação de mentoria em governança capaz de orquestrar a sinergia entre o desenvolvimento humano e dos negócios.